Laura Finocchiaro revisita arte de raiz, critica copy-paste artístico e lança primeiro CD de música orgânica
Quem está acostumado com os trabalhos ousados, com as misturas musicais e com os experimentos ultramodernos e eletrônicos da cantora, musicista e compositora Laura Finochiaro, certamente se surpreende com o mais novo álbum da artista – Copy Past, Música Orgânica, da Sorte Produções. Tudo porque, à frente da trilha sonora de programas de TV nos últimos 10 anos, Laura farejou e percebeu que a maior transgressão artística que poderia ter neste cenário musical atual – da indústria de fórmulas repetidas, pasteurizada e massificante – é a de retomar a música de raiz, que vem da natureza, da simplicidade, do coração…
…Ou, como ela mesma diz, da velha-nova “música orgânica”.
Para o sexto CD da carreira [dentre várias participações e coletâneas], a gaúcha radicada em São Paulo e no Rio de Janeiro partiu rumo a Recife, revisitou a obra de grandes heróis da história, tal como Luiz Gonzaga, Vitalino, Dominguinhos e Virgulino, e firmou parcerias com grandes artistas de Pernambuco: o maestro Spok e o multi-instrumentista Renato Bandeira [diretor musical e arranjos]. O resultado de oito faixas exala o cheiro da terra, ecoa a riqueza instrumental, inspira a esperança, sacia pela água do poço, encanta pela Ó-Linda e envolve pelo movimento do Cirandar.
Com muito frevo, forró, ciranda, baião e embolada, Laura nos leva para momentos alegres, leves, de reflexão e quase esquecidos. Em “Quatro Por Quatro”, mostra o sonho de quem vive na palhoça: “Quero uma casa que tenha dois pisos, quarto, sala e banheiro, com espelho pra se ver/ Um celular, uma moto, um radinho – mp3 e coisa boa para comer”. Já no açucarado “Olinda”, se apaixona pela linda moça que surgiu e vingou. “Ó moça-mulher que veio e ficou/ Me beija, hoje é carnaval”. Todas marcadas pela celebração do violão, sanfona, viola, sax, alfaia, pandeiro, zabumba, triângulo e ganzá.
O espírito ativista e libertário, que a fez líder de bandas paulistas nos anos 80-90 e revelar-se bissexual publicamente muito antes de Danielas Carolinas ou Anas Mercurys, também exibe o rosto. Na música “Todo Mundo Pro Mundo”, diz que o mundo está perdido e convoca a união de todos para melhorar. E em “Copy-Past”, título baseado nas teclas de control-C e control-V [copia e cola] do computador, a artista faz uma critica ao cenário repetitivo dos artistas. Investe no refrão-chiclete “Caruaru, Caruaru, ó meu fru-fru”, canta que o “cabra tem que ralar muito para inventar e fazer canção”. E que sem dúvida “a criação é o coração”.
No encarte do CD, no clipe Copy-Paste e nas fotos de divulgação, todos inspirados na cultura pernambucana, Laura assume os cabelos da experiência, caminha pelo cantar sorridente e pela maturidade musical. Mostra sobretudo ser uma artista com A maiúsculo, que no auge de seus 30 anos de carreira surpreende, se reinventa, cutuca e, o melhor, encanta com sua cristalina voz, faro musical e veia artística. Faz mais uma vez – e desta vez de uma maneira diferente – o povo dançar para não dançar.
Fonte: NLUCON
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